sábado, 14 de julho de 2012

Universidade federal na Zona Leste: antes que um aventureiro lance mão - por JMN

Universidade federal na Zona Leste: antes que um aventureiro lance mão

Após anos de luta e mobilizações quase anônimas a universidade federal na zona leste está mais perto de se tornar uma realidade. Nesse sentido se faz crucial algum resgate sobre parte dos passos que foram dados nessa direção antes que aventureiros, com pretensões eleitoreiras, se comportem desastradamente como supostos pais de criança.
Agora, no dia 18 de agosto, a partir das 9 horas da manhã está previsto uma concentração em frente ao antigo prédio da Gazarra, na Avenida Jacu Pêssego, 2630, Itaquera para uma espécie de celebração da tão aguardada etapa do depósito feito pela Prefeitura de São Paulo referente a aquisição do terreno que se transformará na universidade e que terá, a posse, que ser repassada ao Ministério da Educação, do governo federal. Aguarda-se a presença da presidenta Dilma Roussef, do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de parlamentares, dos principais ativistas da luta pela universidade e da população.
Antecipando-se a possíveis comportamentos equivocados de parlamentares ou eventuais candidatos nas próximas eleições municipais ainda este ano, vale fazer algumas considerações.
A primeira delas diz respeito a afirmar em alto e bom som que cabe retroagir pelo menos uns 25 anos atrás para encontrar uma forte movimentação popular na zona leste pleiteando uma universidade pública na região. Alguns parlamentares estiveram, sim, envolvidos e citar apenas um nome pode melindrar outros. Lideranças como o Padre Ticão e outros agregados daqueles tempos de Teologia da Libertação poderiam ser citados. Militantes organizados no Partido dos Trabalhadores, então incipiente também. Posso afirmar: eu estava lá.
Saltando no tempo e no espaço. A chegada da Universidade de São Paulo, na versão Leste tem a ver com esse processo e essas lutas. A Fatec na Avenida Águia de Haia, onde estava previsto pelo então governador Mário Covas um Centro de Detenção Provisória foi outra entre as ações por ensino público de qualidade para a região. No mesmo período, registre-se, o governo estadual implantou outras unidades na Zona Leste.
Saltando ainda mais no tempo e no espaço houve um tempo em que um balde de água fria estava sobre nossas cabeças. Em março de 2010, o Fórum para o Desenvolvimento da Zona Leste - FDZL realizou importante seminário nas dependências da Fatec - Águia de Haia para discutir a relação entre o ensino superior e o desenvolvimento econômico na região com algumas preocupações entre as lideranças. Na ocasião quem tinha as chaves do cofre sustentava a impossibilidade da universidade federal vir para a zona leste.
Foi nesse dia que o professor Paulo Augusto de Lima Pontes, um dos membros do conselho de entidades da Unifesp, que decide sobre se; como e quando uma universidade federal seria criada, lembrou de certa resistência em instalar uma unidade na Zona Leste. Nem mesmo o apoio do então ministro de Educação, Fernando Haddad e da possível disposição do prefeito Gilberto Kassab na instalação da unidade era garantia e não estavam comovendo o conselho, insinuava o representante.
Essa impressão foi o suficiente para acirrar os brios das lideranças presentes
As lideranças então se colocaram pela manutenção do diálogo com o conselho da Unifesp e coube ao Padre Ticão, lembrar que apesar da reivindicação aglutinar milhares de pessoas que não aceitariam passivamente uma negativa, as negociações se dariam sempre no plano das ideias e dos diálogos.
Secundados por diversas lideranças que se manifestaram no dia, Ticão lembrava que eram as condições objetivas da região, conforme revelado os diversos índices oficiais a respeito da qualidade de vida e das enormes carências da região mais populosa da cidade os principais argumentos a favor da legitimidade da reivindicação pela universidade.
“Com 4 milhões de pessoas e uma região da cidade onde é possível formas de desenvolvimento sustentável, não é possível não compreender a importância da região. Basta comparar com qualquer outra região do país”, alegaram alguns que argumentaram dessa forma não por desmerecimento de outras localidades, mas, sim, por uma questão de justiça e estratégia. Houve ainda quem lembrasse de que os recursos são sempre por obra e graça dos impostos que toda a população paga, incluindo ai os milhares de moradores da zona Leste.
Durante aquele debate foi confirmado que o Padre Ticão – havia sido convidado pelo conselho para uma reunião nos próximos dias. Segundo Ticão ele lá estaria para de forma negociada argumentar com os conselheiros por uma decisão favorável a essa demanda que dificilmente sairá da pauta da zona leste daqui para frente.
Não só compareceu como, em conjunto com outras entidades como o FDZL e de alguns parlamentares, manteve a chama acesa com diálogos e mobilizações durante todo esse período até esse desdobramento quase final.
É disso que se trata. A luta pela implantação da universidade federal na zona Leste tem muitos pais e mães, mas um exame detalhado vai revelar que foi a mobilização popular e o esforço de lideranças sem mandato parlamentar que deu vida ao rebento.
J. de Mendonça Neto, jornalista e membro do FDZL

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